Refúgio
Norbert Lieth
A Caverna de Adulão e Sua Profundidade Profética
Davi retirou-se dali e se refugiou na
caverna de Adulão; quando ouviram isso seus irmãos e toda a casa de seu pai,
desceram ali para ter com ele. Ajuntaram-se a ele todos os homens que se
achavam em aperto, e todo homem endividado, e todos os amargurados de espírito,
e ele se fez chefe deles; e eram com ele uns quatrocentos homens. Dali passou
Davi a Mispa de Moabe, e disse ao seu rei: Deixa estar meu pai e minha mãe
convosco, até que eu saiba o que Deus há de fazer de mim. Trouxe-os perante o
rei de Moabe, e com este moraram por todo o tempo em que Davi esteve neste
lugar seguro. Porém o profeta Gade disse a Davi: Não fiques neste lugar seguro;
vai, e entra na terra de Judá. Então Davi saiu e foi para o bosque de Herete” (1 Sm 22.1-5).
O Antigo Testamento é um livro que ilustra o Novo Testamento, pois as
marcas da cruz perpassam profeticamente a Bíblia toda. Repetidas vezes nossa
atenção é despertada pela presença desse fato que é o maior que aconteceu na
História da Salvação e em toda a eternidade: a morte de Jesus na cruz do
Calvário! E é nessa perspectiva que até na caverna de Adulão e nos fatos que
ali se sucederam podemos ver uma ilustração, um exemplo daquilo que o Davi
celestial, que é Jesus Cristo, realizou na cruz.
Adulão, lugar da justiça
A palavra Adulão tem dois significados: 1. justiça do povo; 2. refúgio,
esconderijo. Essas não são duas maravilhosas alusões à cruz do Calvário e à
futura história de Israel? Será feita justiça a Israel, e isso no dia da Grande
Tribulação quando o povo judeu se refugiará no Senhor e quando seus olhos virem
Aquele a quem haviam rejeitado. A salvação de Israel passa pelo Calvário
(Adulão)!
Mas também a nós, que cremos em Jesus Cristo, foi concedida ali a
justiça que tem validade diante de Deus. Fomos justificados pelo sangue do
Cordeiro (Rm 3.25-26). E na cruz igualmente encontramos refúgio. “O Deus eterno
é a tua habitação” (Dt 33.27).
Adulão, lugar de significado profético
“Davi retirou-se dali e se refugiou na caverna de Adulão; quando ouviram
isso seus irmãos e toda a casa de seu pai, desceram ali para ter com ele” (1 Sm
22.1). Davi, que no passado nem havia sido valorizado por sua família agora é
procurado por ela. Seus irmãos e parentes fogem para ficar junto dele na
caverna e de fato acham refúgio em sua companhia.
Séculos depois isso se realizou igualmente na vida de Jesus.
Primeiramente seus próprios irmãos não creram nEle (Jo 7.5), assim como os
irmãos de Davi não creram em Davi e até o repreenderam. Posteriormente, os
irmãos de Jesus passaram a crer nEle (At 1.14) e encontraram refúgio interior
em Jesus, como, por exemplo, Tiago, que escreveu a Epístola de Tiago do Novo
Testamento.
Isso tem teor profético: os irmãos de Jesus são o povo de Israel. O povo
como um todo até hoje ainda não crê nEle. Mas virá o dia em que todo o
remanescente de Israel buscará e encontrará refúgio em Jesus (Rm 11.25b-26).
Em Miquéias 1.15, Adulão é mencionado em conexão com a futura redenção
de Israel: “…chegará até Adulão a glória de Israel.” E em 1 Samuel 22.3-5 lemos:
“Dali passou Davi a Mispa de Moabe, e disse ao seu rei: Deixa estar meu pai e
minha mãe convosco, até que eu saiba o que Deus há de fazer de mim. Trouxe-os
perante o rei de Moabe, e com este moraram por todo o tempo em que Davi esteve
neste lugar seguro. Porém o profeta Gade disse a Davi: Não fiques neste lugar
seguro; vai, e entra na terra de Judá. Então Davi saiu e foi para o bosque de
Herete.” Assim como os pais de Davi encontraram refúgio temporário em Moabe,
assim, segundo a minha opinião, o remanescente de Israel buscará e achará
refúgio em Moabe, ou seja, na Jordânia, durante o tempo da Grande Tribulação
quando o anticristo tentará exterminar o povo de Israel. Mas no final o
restante de Israel vai encontrar refúgio na “caverna de Adulão”, ou seja, no
Calvário. Os que restarem do povo de Israel irão se dirigir Àquele que já há
2.000 anos atrás realizou a salvação para todas as pessoas na cruz do Calvário
(comp. Zc 14.4-5,8-11).
Adulão, lugar de profundidade insondável
A caverna de Adulão é descrita assim: “É um sistema de corredores sem
fim e passagens transversais que ainda não foi explorado por completo.” Da
mesma maneira jamais conseguiremos perscrutar toda a profundidade e abrangência
da cruz. A Páscoa sempre continuará sendo para nós de uma grandeza imensurável.
Pesquisamos e nos aprofundamos no assunto e ficamos admirados do que Jesus fez
na cruz – e continuam a surgir novos mistérios à nossa frente. Fazemos cada vez
mais novas descobertas, mas jamais chegaremos ao seu fim. Pessoa nenhuma pode
dizer que já conseguiu explorar essa “Adulão” por completo, pois ela é uma
fonte inescrutável de riquezas.
Muitas vezes as preciosidades se encontram, por assim dizer, ocultas em
uma caverna. J. Oswald Chambers escreveu certa vez:
Os mais inteligentes pensadores de todos os tempos tentaram entender o
significado da morte de Jesus na cruz. Mas ninguém jamais conseguiu chegar à
sua profundidade completa. Eles desistiram, como fez Paulo exclamando:
"profundidade da riqueza, tanto da sabedoria, como do conhecimento de
Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis os seus
caminhos!" (Rm 11.33).
Temos algo semelhante escrito em Efésios 1.19: “…e qual a suprema
grandeza do seu poder para com os que cremos, segundo a eficácia da força do
seu poder.” Ou pensemos em Efésios 3.18-19: “a fim de poderdes compreender, com
todos os santos, qual é a largura, e o comprimento, e a altura, e a
profundidade, e conhecer o amor de Cristo (a cruz), que excede todo
entendimento, para que sejais tomados de toda a plenitude de Deus.”
Adulão, lugar de humilhação
A caverna de Adulão, na qual Davi ficava e onde muitos se escondiam, era
um lugar comum, sem nada de especial na sua aparência. Uma caverna não é um
lugar agradável. Em geral as cavernas são lugares solitários, escuros e frios,
um lugar para sujeira e lixo de todo tipo. De qualquer forma, uma caverna não é
lugar digno para um rei, pois nem de longe pode ser comparada com um luxuoso
castelo. Se Davi estivesse morando dentro de um majestoso castelo, certamente muito
mais pessoas teriam vindo para ficar com ele. Mas até essa caverna só vinham
aqueles que realmente precisavam dele.
Davi já havia sido ungido como futuro rei pelo profeta Samuel (1 Sm
16.13), mas estava sendo perseguido e oprimido tão duramente por Saul, rei em
exercício em Israel, que se viu obrigado a fugir para uma caverna. Davi foi
obrigado a isso pelas circunstâncias, mas o Filho de Deus o fez de livre e
espontânea vontade. Pensamos no Senhor Jesus que, mesmo sendo semelhante a
Deus, esvaziou-se a Si mesmo, assumiu a forma de servo e foi fiel até à morte,
até à morte na cruz (Fp 2.6-8).
Com Davi na caverna de Adulão somos lembrados do Salmo 22 onde é
descrito o Salvador sofredor: “Contra mim abrem as bocas, como faz o leão que
despedaça e ruge” (v. 13). Jesus – sendo entregue à cruz – se encontrava
literalmente na cova dos leões!
Adulão, lugar do rei verdadeiro
Quem é que poderia crer ou imaginar que naquela caverna se encontrava o homem
que havia sido escolhido para reinar sobre Israel, homem em quem um dia muitos
encontrariam ajuda? Mesmo que Davi tenha começado de maneira tão humilde – esse
era o caminho de Deus para ele –, mesmo assim ele era o ungido, o novo rei de
Israel. E apesar de não ter sido reconhecido como soberano quando se encontrava
nessa situação, ele não deixou de sê-lo.
Vejam como Jesus foi desprezado, cuspido, torturado e escarnecido quando
se encontrava dependurado na cruz! Mas mesmo assim Ele continua sendo o homem
da salvação, o verdadeiro Rei e o único refúgio para uma humanidade perdida.
Pedro testemunhou o seguinte aos fariseus incrédulos: “E não há salvação em
nenhum outro; porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os
homens, pelo qual importa que sejamos salvos” (At 4.12). Jesus é o verdadeiro
filho de Davi. E Ele é o verdadeiro soberano e senhor do céu e da terra e Rei
dos Reis, mesmo que na cruz não tenha sido reconhecido!
Adulão, lugar de refúgio
“Ajuntaram-se a ele todos os homens que se achavam em aperto, e todo
homem endividado, e todos os amargurados de espírito, e ele se fez chefe deles;
e eram com ele uns quatrocentos homens” (1 Sm 22.2). Que tipo de pessoas vieram
a Davi na caverna? Eram pessoas que provavelmente receberam um sorriso
condescendente e cheio de pena nas ruas e castelos. Eram criaturas miseráveis,
pessoas em angústia, pessoas carregadas de culpa e com um coração atormentado.
Mas Davi estava a seu lado! Em sua caverna encontraram refúgio.
Mas quem são os que encontram refúgio na cruz do Calvário?
Pessoas em aperto
Pessoas que não sabem o que fazer consigo mesmas, que chegaram aos seus
limites e que perderam o chão firme debaixo de seus pés. E até hoje todos os
que se encontram cheios de problemas (logicamente também os que já aceitaram a
Jesus como seu Senhor e Salvador) podem ir a Jesus em busca de refúgio e paz na
obra consumada do Senhor na cruz do Calvário sempre que precisarem. Podemos ter
a certeza de que Jesus é maior que todo e qualquer poder que queira nos oprimir.
Pessoas endividadas
Pessoas que estão cônscias de sua culpa e sabem o quão profundo é o
abismo do pecado e que estão convictas do quanto são condenáveis diante do Deus
vivo, são essas pessoas que correm em direção a Jesus. Toda e qualquer pessoa
que sabe da maldade que existe em seu coração consegue refúgio na “caverna de
Adulão”, isto é, na cruz do Calvário. Nessa “caverna”, a pessoa encontra perdão
dos pecados e um Deus misericordioso. Mas para todos os que são cristãos
renascidos é válido o que segue: “Filhinhos
meus, estas cousas vos escrevo para que não pequeis. Se, todavia, alguém pecar,
temos Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o justo; e ele é a propiciação pelos
nossos pecados, e não somente pelos nossos próprios, mas ainda pelos do mundo
inteiro” (1 Jo 2.1-2).
Pessoas amarguradas de espírito
Quando as sombras da depressão ou as trevas da tentação angustiam a
nossa alma, encontramos refúgio, salvação, consolo e paz em Jesus. Como as
pessoas devem ter suspirado aliviadas quando entravam na caverna! O Salmo 5.11
fala: “Mas regozigem-se todos os que confiam em ti; folguem de júbilo para
sempre, porque tu os defendes; e em ti se gloriem os que amam o teu nome.” Em
Jesus você está seguro!
Em lugar algum estamos mais abrigados e seguros do que na cruz do
Calvário, “…porque ele (Jesus Cristo) é a nossa paz” (Ef 2.14). Toda vez que
nos humilharmos diante dEle em arrependimento sincero e confessarmos a Ele os
nossos pecados poderemos respirar aliviados. Mas será que tomamos tempo
suficiente para buscarmos o ungido rei na “caverna de Adulão” – para termos
comunhão com o nosso Davi celestial?
Adulão, lugar da troca de liderança
Lemos em 1 Samuel 22.2: “Ajuntaram-se a ele todos os homens que se
achavam em aperto, e todo homem endividado, e todos os amargurados de espírito,
e ele se fez chefe deles; e eram com ele uns quatrocentos homens.”
Simbolicamente podemos deduzir o seguinte:
Os homens se ajuntaram a Davi
Jesus voluntariamente trilhou o caminho da humilhação, e, igualmente,
todos aqueles que querem seguir a Jesus têm de se despojar de todo orgulho e
têm de cair de joelhos diante do Senhor, se humilhando na Sua presença. Isso os
irmãos de Jesus (Israel) farão, e essa é uma condição imprescindível para todo
aquele que procura a salvação. Mas aquele que quiser ser o rei, que quiser
continuar a mandar, como o rei Herodes no tempo de Jesus – a essa pessoa o
caminho ao Calvário estará bloqueado.
Os homens se sujeitaram a Davi
A partir do momento em que os homens entraram na caverna de Adulão, Davi
passou a ser seu chefe. Quem se refugia com seus pecados em Jesus experimenta o
perdão. E perdão recebido aprofunda o amor a Ele e conduz à submissão
voluntária ao Senhor e Seu domínio em nossas vidas.
Os homens mudaram de reino
Se pudéssemos perguntar àqueles homens de onde eles vinham, certamente
teriam respondido: “Viemos do reino de Saul”. Até nisso Saul é um símbolo do
reino deste mundo, já que havia sido exaltado por Deus e instituído por Deus
para ser o primeiro rei de Israel. Mas, por desobediência, Saul se desligou de
Deus. Por isso, Deus o rejeitou, e, depois disso, Saul reinava em seus
domínios, mas em oposição a Deus. E assim foi com Lúcifer, a “estrela da manhã”
que se rebelou contra Deus e perdeu sua vocação. A maioria das pessoas se
encontra no reino de Satanás; são poucos os que fogem e se refugiam no Davi
celestial.
Saul também é uma ilustração da natureza pecaminosa do homem. Ele foi um
rei segundo o coração humano. Davi foi diferente, ele era um homem segundo o
coração de Deus – e é uma ilustração da vida espiritual. Se poderíamos
continuar perguntando àqueles homens: “Aonde vocês vão?” eles teriam
respondido: “Estamos saindo do reino de Saul e vamos ao reino de Davi.” Quem se
achegou a Jesus realizou uma mudança de posição em sua vida e se demitiu do antigo
padrão que o escravizava. Essa pessoa deu a Jesus Cristo a primazia em sua
vida.
As pessoas daquela época tomaram certas atitudes para chegarem a Davi.
Elas foram até sua caverna, que era algo humilhante, e se uniram com Davi. E
quem deseja hoje se refugiar em Jesus? Em sentido neotestamentário isso
significa entregar-se a si mesmo: “Ou, porventura, ignorais que todos os que
fomos batizados em Cristo Jesus, fomos batizados na sua morte? Fomos, pois,
sepultados com ele na morte pelo batismo, para que, como Cristo foi
ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também andemos nós em
novidade de vida” (Rm 6.3-4).
Cada um desses homens estava bem consciente de sua culpa e de sua grande
angústia, e cada um deles provavelmente pensava: “Se existe alguém que pode me
ajudar, essa pessoa só pode ser Davi.” Por isso esses homens se puseram a
caminho e se dirigiram à caverna de Adulão. Lá, junto de Davi, encontraram
descanso e passaram a fazer parte de seu reino. Querido amigo, peregrino
cansado da longa jornada, você também tem um descanso maravilhoso a lhe esperar
nas feridas do Cordeiro de Deus que morreu por você na cruz do Calvário:
“Venham a Mim e Eu lhes darei descanso – todos vocês que trabalham tanto
debaixo de um jugo pesado. Levem o meu jugo – porque ele se ajusta
perfeitamente – e deixem que Eu lhes ensine; porque Eu sou manso e humilde, e
vocês acharão descanso para suas almas; pois só Eu faço vocês carregarem cargas
leves” (Mt 11.28-29, A Bíblia Viva). (Norbert Lieth — Chamada.com.br)